sábado, 14 de maio de 2011
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Das utopias vanguardistas num mundo nada personalista
Antes, é de referir um infeliz acontecimento. Por motivos de saúde não compareci ao segundo semestre da cadeira de Filosofia do Direito, leccionada pelo Professor Eduardo Vera Cruz Pinto, em substituição do Professor Curado Neves (e sim, eu vi-o Professor), mas ainda assim vieram até mim os sumários daquela que seria, ou pensava-se que seria, a principal cadeira na formação de qualquer aluno que inicia os seus estudos para se tornar futuro jurista. Ora, o Professor Vera Cruz sabe sempre surpreender, e não falo da stand-up comedy variar de aula para aula, mas da cagança pedagógica a que se assiste em qualquer cadeira que venha a erradamente ensinar. Desta, a porcaria foi grande de mais. Começou por avisar os alunos de que teriam um guia de estudo na reprografia para se prepararem para o teste no final de Maio. Até que, três semanas antes do teste, surge o tal guia de estudo encadernado e pronto para compra nas livrarias jurídicas de Lisboa, sem qualquer bibliografia e a 23 euros a unidade. Parece-me a mim que as fotocópias sairiam mais baratas. Este “guia” era composto por seis capítulos que, avisou de antecedência o Professor, seriam as seis questões a saírem no teste, de entre as quais escolheriam os alunos três para darem as respostas previamente discutidas nas aulas. Um mês depois, e dois meses depois, o teste repetiu-se nos exames de primeira e segunda fase, este último no qual houve um aluno a entregar, literalmente, uma folha teste com as respostas que havia trazido de casa. Aparte desse aluno estava eu e outra aluna que copiava as respostas de uma folha a parte, freneticamente, como se três horas de exame não chegassem para passar a limpo as respostas a três perguntas. Não gostando do que vi, sai para falar com o Professor regente que me chamou a um canto e me tentou vender a ideia de que oferecendo positivas a todos contribuía para a respectiva boa formação nesta faculdade de Direito que daqui a três anos estaria a funcionar, imagine-se, com testes de cruzes e escolhas múltiplas. Já lá vão os dias em que o aluno de Direito deveria saber escrever e falar!
Parece tudo isto demasiado. E demasiado pouco relativo à saída da crise. Mas, de uma forma resumida, a ideia de Ken Robison foi a de, quando, há onze anos atrás, escreveu o Robinson Report, também chamado de All Our Futures Report, incentivar o governo a arriscar mais e a adoptar medidas no sector de que menos se fala quando nos referimos a medidas de austeridade - a educação. E não falou desta de uma forma financeira. Para Robinson, a resposta à crise está na criatividade, e é na escola que esta se começa a desenvolver, se incentivada a tal. Desde cedo a relação entre o educador e o aluno se torna essencial para que o segundo deposite a sua confiança no primeiro e se sinta suficientemente à vontade e independente para dar corda à imaginação. Que a maioria dos professores que me deram aulas não fossem minimamente vocacionados para o fazer, não será surpresa para ninguém. E dessa probabilidade massiva vem uma destrutiva consequência. Os alunos não são incentivados a desenvolverem por si mesmos os problemas com que trabalham em casa disciplina. Não recebem um estimulo. Recebem, por parte de professores como o referido, presentes, por caírem na via do facilitismo. Antes são obrigados a ouvir a perspectiva que é dada como convenção e veja-se, como muitos desses abominam a catequese porque não acreditam no menino Jesus, aqui não torcem o nariz e aceitam a ciência como se fosse lei de Deus. E o processo é a bola de neve que já conhecemos. Se não estão motivados, não gostam. E, se não gostam não fazem. E se não fazem temos de descer o nível dos exames nacionais para que os resultados não piorem. Para que as médias não subam nem desçam. Para que cada aluno esteja ciente de que ir para o que o torna especial e genuíno não é uma escolha saudável. Primeiro, porque pode não entrar, e segundo porque pode não ter emprego. E assim crescem obcecados com as ideias erradas. E assim se fazem maus profissionais. É que a criatividade faz o gosto, e este desenvolve aptidões. De que vão ser feitos os futuros profissionais que não delas?
A economia dos E.U.A confrontou-se nos primeiros momentos da recessão com um facto interessante. A curva de Beveridge que representava a criação de novos postos de emprego em função da taxa de desempregabilidade mostrava que apesar da primeira variável aumentar a segunda estagnava. Economistas americanos procuraram a razão e a forma de redesenhar a curva na sua linha original. Uma das razões para as quais havia uma solução era que muitos dos trabalhadores não tinham aptidões para os cargos oferecidos. Talvez se um dia, em casa ou na escola, tivessem dito que serias bom artista em vez de bom engenheiro com emprego garantido, haveria agora mais uma vaga preenchida. E mais um exemplo para o próximo sonhador de que ainda pode encontrar emprego a fazer aquilo de que mais gosta.
domingo, 25 de julho de 2010
Das utopias políticas vanguardistas num mundo nada personalista
Se é correcto afirmar que cada vez mais nos perdemos no fluxo corrupto a que assistimos, sem saber no fim para onde nos direccionamos politica e paulatinamente, mais correcto será dizer que a culpa é, em dada medida, distribuida e que parte é nossa. Outra fatia pertence ao político. E a última, a meu ver, ao professor.
A mentalidade do produtor, quando tacanha e pessimista, e o próprio produtor, desvalorizado e corrompido (e quem começa primeiro nunca se saberá) são combinados numa soma de corrupção e preguiça cujo objectivo é uma monotorização expressiva de interesses particulares. Interesses movidos, assinalando a culpa ao político (wanna be), pela partidirização parlamentar e consequente desgovernação social num contexto em que o sistema legislativo se incorpora no político e se absorve no mesmo, caindo por terra a legitimidade jurídica da lei escrita como fonte manifestandi de ius e movendo-se como se de o mesmo se tratasse. Quando o político olha para o problema apresentará sempre uma solução institucionalizada em que o próprio homem será uma instituição, se a entendermos como um grupo organizado que se prolonga no tempo, pois a sua existência não se advinha extinta em 2012. E como tal, feito companhia desumana, é estudado e criticado, ponto de retorno na tese política actual que não possui individualidade, autonomia ou independência como referências, valores diferentes que a democracia pressuporia, como forma governativa actualista. Mas, a vanguarda política já não é democrática. A tese constitucional não é também psicológica, é meramente utilitarista. Não reflecte a mentalidade, mas a meta utópica de uma ambição desmesurada por dinheiro, poder e reconhecimento. E nunca na história, democracia pura foi definida como a satisfação de um bem que não o comum, ao invés de ser encarada como instrumento de sobrevivência na elite governativa.O governo dos homens segundo Platão já foi contraposto pela tese aristotélica que abraça o governo das leis. Se uma nega a outra? Nem por isso. Para o mal de todos, são eles que as fazem e controlam a produção legislativa que está, por sua vez, descontrolada.
Se é errado negar a materialidade democrática portuguesa, não será certo, porém, afirmar a sua totalitariedade. Não são oito ou oitenta - são zero! - é o quanto vale actualmente a acção governativa (até estão agora em voga os critérios numéricos para avaliar um país!) que não faz da defesa do indíviduo singular, apto e produtivo e da satisfação das respectivas necessidades um objectivo mas sim uma fonte de despesas a evitar. E, numa sociedade cujo liberalismo económico é levado a extremos para que se tente salvar da crise em que entrou durante o último semestre de 2008, nada é mais importante para o esfomeado pelo poder que manter os números (privados) em obra, promover a economia liberal sem promover o nível de vida ao cidadão já pobre e levando a que, num esgotamento de projectos privatizados, o sector público tenha de ir em auxílio da situação económica que os mestres não controlam. E, de novo, olhando para os interesses privados e para a análise macroeconómica do país, o índividuo é esquecido.
Uma das principais objecções à liberalização total do aborto é para mim a potencialidade do nascituro. Não tanto o ser biologicamente vivo, mas antes o ser um leque de potenciais, de possibilidades que, podendo cair no erro de contrariar a mentalidade portuguesa, sendo optimista, podem englobar, quem sabe, um político no verdadeiro sentido da palavra. Porque os políticos de hoje abortam a nossa individualidade enquanto pessoas e entendem-nos como mero capital humano movido pelas cordas eleitorais que os levam ao palanque. E então posso dizer sem remorsos, que a culpa é deles por não sabermos como viveremos daqui a anos, mais breves que imaginamos, e mais pobres que o prometido.
Na tentativa de acompanhar um fenómeno globalizador a Europa, como o primeiro motor da economia mundial, não o actual (que é os E.U.A.), entra numa lobotomia política de lavagem cultural, que apaga uma tradição para impor um padrão financeiro de sobrevivência e para manter uma relação intraestadual que aparente nada mais que uma simpatia apenas por decência. Foi o que aconteceu com o esforço europeu para, a partir do FMI e de fundos internos manter a Grécia à deriva apenas visualizando ratings estabelecidos por empresas americanas como a Fitch, mais actual e popular, cujos estatutos duvidosos deviam ser, eles próprios, avaliados por empresas europeias. Ainda assim, são desprezíveis, quaisquer meios de atribuir a um país uma qualificação numérica para o colocar num ranking, como se ao invés de um povo num território e de uma procura pela pacificidade, investigássemos um ponto numa tabela à procura de competição. E não é do que se trata realmente?
Como se verifica, não há uma busca ao respeito pelo humano, social, económico ou político. Há uma busca, vestida de pretextos falsos e ganância, pelo prémio do reconhecimento internacional. O intrigante é que o nacionalismo cresce e sofre com o processo: cresce porque as aparências não são apenas mantidas no estrangeiro e sofre porque de nacionalismo vem a noção de “nação” e esta já poucos políticos a conhecem. E assim sendo, cresce transformado, um mutante do valor espiritual que o valor da moeda veio substituir.